01/02/2010

Devotos de San Diego de Alcalá


Não sabia o quanto gostava de caminhar com os pés descalços pelo concreto noturno, mas adorou sentir seus pés tocarem o chão das ruas e cada uma das suas pequenas saliências, pedras e pedaços pontiagudos que machucavam seus suaves pés de intelecutal. Bêbado e entorpecido, andou pelas ruas silenciosas e supostamente violentas de seu bairro de classe média-baixa. Com os cabelos despenteados, a camisa levemente suja, amassada e a bermuda recém-comprada, dizia a si mesmo que queria respirar o ar fresco da noite. Mas não era apenas isso, era também sua fuga da conversa insuportavelmente humana (demasiado humana) que jazia sem cessar em sua sala de estar: sexo, drogas, mais sexo, frustrações pessoais e intermináveis regras que regem ou deveriam reger os relacionamentos entre seres humanos e falantes, interminavelmente falantes. Andou pela pobreza da zona de prostituição que insistia em profanar as avenidas com travestis, prostitutas e traficantes baratos. Lá, escutava o barulho dos carros, uma ou outra conversa ao longe, o que lhe parecia agradável e reconfortante aos ouvidos. Suas personagens favoritas, as putas e os travestis, chamavam pouca sua atenção, ele se limitou a dar-lhes um educado “boa noite”. Passou por el@as e dirigiu-se diretamente aos pequenos malandros sentados na esquina. “Quer alguma coisa, meu camarada” perguntou um das pequenas criaturas, “sim”, respondeu a criatura menor - não em altura, mas certamente número de pessoas e armas, “que vocês vão todos se fuder”. Parou e esperou a reação das criaturas da noite que, imediatamente, se levantaram e desferiram várias frases que, em conjunto, pareciam um bando de aves barulhentas. A criatura a que os havia provocado esperou as vozes diminuírem e então disse: “estarei andando por essa rua aqui ao lado, completamente deserta, por pelo menos 10 minutos, estou sozinho e qualquer um, ou todos vocês, que desejarem me encontrar, basta segui-la”. Pegou seu velho mp3 e colocou para tocar o que esperou ser, finalmente, sua sentença de libertação: “Estrella de la mañana, Samael te persigo a ti, Y si me quemo sin alas, Ademas me muero por ti”. Mas ninguém o seguiu, ninguém o agrediu, nada o cortou e nenhuma arma de fogo foi disparada. Se alguma frase foi dita, Asilos Magdalena o impediu de escutar. Talvez Tyler Durden tenha mais razão do que jamais pudera imaginar. Não são apenas os pacatos e civilizados yuppies norte-americanos que não reagem, mesmo a sociedade com os mais altos índices de violência mundial, naquela noite, estava despreparada para ajudá-lo a encontrar sua estrela matutina. Voltou para casa e conversou com seus amigos sobre sexo, drogas, mais sexo, frustrações pessoais e sobre as intermináveis regras que regem ou deveriam reger os relacionamentos entre os seres compassivos, humanos e falantes, interminavelmente falantes, sendo ele, mais uma vez, um deles.

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