26/06/2010

Senhorita X,


Um trecho das vozes que te perseguem, há seis meses ou mais:

§ “Línguas estranhas cobrem minha pele
Glicerina e turbulência
Cale a voz interna de Deus
Espelho para os animais!”



The Mars Volta, Tetragrammaton

24/06/2010


"o macaco-zumbi não era como ela"
disse o eco de meses atrás
"pois amava apenas o fim",
e ela sorriu.
era quarta na lama, mas em sua cabeça só haviam quartas
o macaco-zumbi se entregou aos vermelhos, aos velhos e, enfim, a Ele
e rezou:
*

eu, m.z., juro prejudicar todos aqueles que me escutam com cuidado;
morderei a mão que alimenta e os dedos que indicam o caminho;
prometo arruinar tudo o que cresce, estragar a semente e o ventre;
prometo infectar a mim e aos outros, não como um todo, mas um a um, com cuidado e em detalhe:
Pastor das Ovelhas Escuras;
multiplicarei a dor e o esgotamento;
serei coroado rei do zombo, da pestilência, das veias cinzas e do hálito podre;
nomeado A derrota, O descaso, O corruptor, O enganado, O traído –
de bom grado, aceitarei as guelras que em mim crescerão, e também o gancho e o reboque que me içarão;
em troca, dê-me o prazer de ver sangrar, a liberdade de escutar gritos abafados, reafirme a agonia desértica do lado da cama e seu choro mudo
traga-me Sua putrefação, pois juro honrá-lo em devassidão;
traga-me Seu agouro, pois juro arrastar-me no esgoto;
traga-me Seus inimigos, pois juro corromper ou retalhar, ou ambos, se assim desejar;
pela estrela da manhã, juro que completarei meu corpo com suas marcas,
queimar-me, como suas asas





"Olho firme no olho vidrado de seu fraco Jeová e puxo-o pela barba; ergo um largo machado e parto em duas sua caveira comida de vermes"



eu, m.z, juro para sempre arruinar, um a um, a todos que puder e a mim.

19/06/2010


O macaco-zumbi atravessou a cidade.
Pensava no fim do socialismo soviético enquanto observava as coxas da travesti que fazia programa na esquina.
Na cabeça um buraco, nos bolsos, alguns trocados.
A lua sorria (literalmente) e voava baixo, amarela como o tártaro em seus dentes.
Seu mau hálito era intenso, sua saliva empesteava tudo, fedia.
O macaco-zumbi tomava remédios para doenças que nunca teve, mas não se medicava contra as doenças que o corroíam por dentro, ou por fora;
Passeava por ruas escuras, sem saber onde terminavam, mas não estava perdido.
Sabia que só se perdiam aqueles que desejam chegar, que têm um objetivo qualquer.
Conhecia impecavelmente o funcionamento de sua sociedade.
Eram três as suas camadas:


1. Os loucos, os mendigos, os criminosos, enfim, os desajustados, eram o centro: quase tudo fugia ou girava em torno deles.


2. Fora do centro do vortex estavam os macacos corredores, eles pulavam, amavam-se, espancavam-se, uns corriam mais, outros menos, uns se divertiam mais, outros menos, mas, invariavelmente, corriam.


3. Para além do poder de atração do vortex estava o misterioso fora, o espaço selvagem, a força da destruição.


De maneira desajeitada – cambaleante, drogado e bêbado – o macaco-zumbi corria;
mas sonhava em pular para fora.
Sabia que morreria, mas ainda assim tentou algumas vezes saltar pela diagonal e se espatifou contra a parede cortante e fluida que separava o fora e o dentro.
Exibia suas cicatrizes com orgulho, embora continuasse escrevendo relatórios, atrasados, inadequados, mas que, no final, estavam lá.

O macaco gostava de andar só pelo escuro e pelas sombras;
Sua pouca coragem baseava-se apenas na constatação empírica de que o medo da violência física que assombrava os outros corredores era inútil ou infundado.
Não lhe incomodava a clara consciência de que seu trabalho e suas investigações não tinham qualquer finalidade, eram totalmente inúteis.
Vez por outra o macaco enunciava verdades, às vezes fazia sucesso, às vezes era um fracasso, mas, em um caso como no outro, pouca diferença fazia.
O macaco-zumbi atravessou a cidade
e escovou os dentes.

16/06/2010

uma gota de ódio escorreu do corpo
se tornou texto
pingou
minúsculas ondas de vazio e frio nos pés,
mas dormiu
*
levemente espancadas, as estudantes retornaram ao pentagrama
(bruxaria lésbica e clichê)

por que não?

nenhum preço é alto demais para afugentar sua luz

[apesar da maldade, o Outro ainda sabia lidar com a luz

já Ele, era apenas escuro]

na vida, como no hospital, as alternativas são duas: a anestesia ou a dor

no hospital, porém, a escolha é mais óbvia

05/06/2010

imagem-imagem-imagem,
um Deus, suas ovelhas e velhas;
                                            paciente
                             empregados da morte,
                                                 funcionários da Razão
                             administradores da vida 
                             – não me importam mais
                  eu só quero despedaçar você!
                                                       só você.
                               fui derrotado
               e desisti                                   nada mais machuca
[merc-mark-merc-mark] – barulho, alarme, vigia noturno
                                            cicatrizes velhas coçam no inverno
                       chuva, mais chuva
                                                  por favor

04/06/2010



é tempo de furtar;
     sem cortes, sem sangue, sem gritos: congelar-se sem resposta, testar as vergonhas
          sair do lugar é – desejo de esconder, incapacidade de dissimular
  eu sou seu Mestre;
                                                                      Pequeno Dominador Mesquinho,
Senhor Vil.
  eu sou seu servo: subassassino, escravomortal, obediênciateatral;
                                        fim de toda organização, pois no mundo só há dois;
       fim de toda empresa, pois no mundo só há fuga;
                                                                                                sonho distante.
com a janela e o concreto, a garganta e a farmácia, a arma e a têmpora,


rua e incidente