31/10/2009



O masoquista saiu sob a luz do dia. Perdeu quase tudo que, um pouco sem querer, construiu durante a vida.

Ele era o Destruidor. O Noturno. Seu desafio era viver sem tradição. Ninguém, nem mesmo ele, sabe quem o desafiou. Foi assim que ele fugiu por todos os lados. Não queria ser uma classe, se escondeu onde era pária, não queria estar por perto.

Batizou-se ateu em chuva dourada e encontrou sua Senhora, sua maior criação.

Ele foi castigado. Finalmente, dor. Recebeu suas tarefas, suas palmadas, foi rebaixado, rastejou, deitou-se e esfregou o rosto no mijo empoçado no chão de sua sala e sorriu. Foi queimado, chicoteado, cortado e estuprado – vela, palmatória, gilete e cinta. Foi puxado como um animal doméstico na frente de seus amigos e lambeu órgãos genitais masculinos na zona de prostituição. O masoquista ficou de quatro, teve seu cu exposto e, em seguida, chicoteado. Descobriu com prazer que adorava os golpes que o atingiam diretamente no ânus.

O masoquista saiu sob a luz do dia. Perdeu quase tudo que, um pouco sem querer, construiu durante a vida.

27/10/2009

Necrópolis

 Av. 1: Espera


Av. 2: Procura

Av. 2: The Fall

Av.3: Fuga

Straigh Up


Vista do topo:
 Necrópolis

26/10/2009



“Ah! Tudo é gelo à minha volta, minha mão se queima ao contato do gelo. Ah! Tenho sede de experimentar vossa sede.

É noite. Porque sou luz! E sede de trevas! E solidão!”



(Nietzsche; Noturna, 1883)

20/10/2009


Hoje à noite esbarrei com essa frase, de uma leveza incomparável:


“Encontrei em todas as coisas esta certeza feliz, a saber:
elas preferem dançar com os pés do acaso”
(Nietzsche, 1883-85).

15/10/2009



O desespero é gelado, literalmente. Assemelha-se ao gelo produzido pela sua droga favorita quando você abusou demais dela. Gela o corpo. Não se trata de tristeza ou depressão, que são mornas e cinzas. O desespero é um sentimento móvel, ele aumenta e diminui de tamanho. É espacial e imperialista, quer ganhar terreno, quer tomar o corpo para si. Contra e além dele está obviamente o amor, que é calor. Carinho nos cabelos, chicotadas nas nádegas, sexo com ou sem delicadezas, pequenos cortes que sangram as coxas, um beijo, mãos dadas, mijo que escorre pelo corpo, um abraço ou cera quente de velas que queima a pele. O gelo vem dentro, é uma interioridade, já o calor é produzido por fora. O gelo é “Eu”, o calor é “Nós”.

10/10/2009


Não sei rezar. Não quero aprender. Não gosto de Deus, nem do Mickey Mouse. Sei quebrar. Não sei consertar. Sei rasgar. Não sei costurar. Sei desprezar. Me sinto melhor. Sei pisar. Sei ridicularizar. Sei não importar. Não sei expressar. Sei apodrecer. Sei ignorar. Sei chorar. Sei rastejar. Sei envenenar. Sei me envenenar. Sei murchar. Sei sumir. Sei gozar. Não sou bom. Nem mau. Não sei me divertir. Sei estar. Não sei permanecer. Não sei subir, nem descer. Subo e desço. Não sei compreender. Não sei ser justo. Sou a lua, não sou temperança. Sou a estrela, mas nunca o mundo. Fujo do dia, gosto da luz morta. Sou o pênis, a vagina e o cu. Não sou braço, nem perna, nem coração. Sou cinza e chuva. Odeio suar. Só na praia e na foda. Sei morgar. Sou lombra e preguiça. Sono e insônia da casa. Não tenho atenção. Não presto atenção. Luta pela luta. Fazer por fazer. Ser melhor pra que? Não sinto fome, só sede.

Quanto mais luz, mais sombra.