12/02/2010

Estava aguardando o ônibus, já passava da meia noite. Um rapaz moreno, com os cabelos lisos, parecendo assustado sentou ao seu lado, “próximo demais”, ele pensou. Gostava do contato humano, mas apenas com seus escolhidos e pervertidos; em geral não gostava de ser tocado. Não demorou para que o cordeiro espantado falasse: - Você viu aquelas pessoas sentadas ali na esquina, todas usando roupas com o sinal do demônio? Intrigado, ele perguntou: - Mas o que exatamente são roupas com o sinal do demônio? O garoto prontamente respondeu: - Aquelas roupas pretas, sabe? Com nomes de bandas e desenhos que lembram o demônio. Uma gargalhada disparou por toda sua caixa craniana e para fora dela, ecoando nas ruas vazias da avenida que beirava o mar. Em seguida, com o tom de voz levemente alterado, ele falou:


- Meu rapaz, você e seu Pastor conhecem pouco o Inimigo que os amedronta, nada tema em relação aos garotos, eles são inofensivos, mas, por ironia do destino ou vontade do algum ser maligno, você está aqui, agora, sentado ao lado de um servidor de Samael, o veneno de Deus, e estou marcado por todo o corpo com os sinais de Lúcifer.

- Veja! – levantou suas calças até o joelho – Aqui em minha perna esquerda encontra-se o sinal que marca nosso ódio em relação ao cristianismo, aos cristãos e ao seu Deus, desenhado pela própria Josette Oleander, também conhecida como Lilith of Wraiths, a vampira de sangue azul.

- No meu braço direito estão as queimaduras desenhadas por Leto de Maramures, representante mundana de Azazel, um dos 200 anjos que se rebelaram contra Deus. Seus cortes me queimaram como fogo enquanto eu gritava e desejava mais e mais. Esse é o seu sinal.

- E você? O que é? Não responda! Pois eu o vejo muito bem: é um cordeirinho de Jesus, perdido em meio à noite escura, tremendo de medo pela falta de seu rebanho. Uma ovelha fraca e perdida, esperando ser resgatada por seu Pastor, como registra o Livro Imundo de seu Deus.

[505]. Seu ônibus chegou, ele deu o sinal da parada em silêncio. Virou-se e não disse mais nada, apenas sorriu levemente e entrou no transporte público que o levaria para casa.

Quando sentou-se começou a pensar em como tinha sido divertido assustar o cristão com algumas palavras bobas e que, no dia seguinte, seria ainda mais divertido contar a história aos amigos na mesa do bar e, mais uma vez, rir do pobre cristão. Mas no fundo de sua caixa craniana ele, por um instante, vacilou.

- Eu estava realmente brincando?

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