21/12/2009

4 mãos, duas bocas, 12 reais, saia branca






sim, perdemos nossas genitálias, assim como nossos nomes e sexos de batismo.


e se, por ventura, somos algo, então somos lésbicas, gays, travestis, macho e fêmea, a um só tempo, ou um de cada vez

somos o grito na areia, o esperma nos lábios, o mar sem trajes de banho – três perversões se esfregando ao mato da praia, poluindo, uma vez mais, os jardins de Camburi.

prazer pago...


(qual era mesmo o nome dela?)


somos das ruas, das esquinas escuras, do amanhecer (não gostamos de banheiras espumadas). somos os remédios com tarjas escuras, sem receitas, que curam feridas – engolimos remédios, e não apenas um.

alguns comprimidos, um prazer, vários desejos (desconhecemos as fronteiras desta terra).

somos dois tigres com garras e dentes afiados, mas que, ao se rasgarem, envergonham-se da sua própria brutalidade. brutalidade que disfarça nossa fragilidade, ou o quanto é fácil nos ferir.


somos beijos ternos para secar lágrimas de tesão, de amor, de dor e memória.

DOR!

somo os de Fora. somos trans. os três lados da rua: mão/contra-mão/acidente


gozo encostado no muro, joelhos arranhados pelo chão de terra e suas pequenas britas: duas bocas em um só pênis, embaixo de uma só saia.

somos amarelos, vermelhos e brancos.


somos a felicidade e a dor, incompreensível porque é NOSSO.


*
Stória:
como é sabido por aqueles que rastejam, o céu não pôde separar a Legião: os antigos demônios condenados a serem diabos errantes
agora são, finalmente, Um.
*

...e usamos nossas asas para voar por ruas e esquinas, bares e praias, mares e rios, becos e portas, linhas e relevos: somos os novos bárbaros, transmutamos, invertemos, camuflamos, saqueamos, andamos nas sombras, fugindo sem razão aparente e sem saber exatamente do que; mas temendo, de um lado, o Capital-mago, que nos convida a trabalhar e, de outro, a terrível Divindade dos cordeiros mesquinhos, com seus braços abertos e olhos atentos.

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